Escolheu um vestido não muito curto nem justo, com flores sobrepostas em diferentes tons de rosa em um fundo branco. As alças se uniam em um decote que deixava o colo a mostra. Seus ombros claros contrastavam com os cabelos negros e muito compridos, e o par de brincos discreto e as sandálias sem salto mostravam o receio que tinha em ser notada. Em um dos punhos, uma pulseira de pedras brancas, um presente dado por ele.
Sentou-se em frente ao espelho e pegou o perfume que ele mais gostava, um frasco de tamanho médio, com as formas de uma silhueta feminina, que era também o preferido dela. Borrifou em seu pescoço sentindo um cheiro doce, lembrando rosas, tomar o ambiente. Lembrou-se de quando juntos escolheram aquele perfume, dele se aproximando para senti-lo em seu pescoço, os olhos cerrados, a respiração compassada, quente, e o seu parecer dito, baixinho, ao seu ouvido “É delicioso, amor”. A voz dele era como um carinho aos seus ouvidos, que imediatamente despertava seu corpo inteiro. Era grave e serena, era a voz que a fazia dormir todas as noites, enquanto ela memorava, entre tantas frases ditas por ele, os incontáveis “Eu te amo”.
Quando se deu conta do tempo, muitos minutos haviam passado. Já deveria estar pronta, a caminho do aeroporto. Terminou de se arrumar rapidamente, apanhou as chaves sobre a escrivaninha e desceu as escadas até o estacionamento. Saiu depressa, fez um caminho de 15 minutos em apenas oito. Estacionou o carro o mais perto que pode na tentativa de não se atrasar ainda mais, sem saber que o vôo sequer havia chegado. Atravessou o caminho que restava cruzando pessoas, taxistas, e já de frente a porta de entrada viu um casal se beijando. Sorriu e pensou “Logo seremos nós...”.
Deu passos rápidos até a sala de desembarque, um espaço pequeno a esquerda no aeroporto. Não era como os aeroportos internacionais que conhecera, era um lugar pequeno, e naquele dia estava estranhamente cheio. Era sexta-feira, já passava das 20 h, e por isso imaginou que muitas pessoas estariam voltando para casa. Não tirava os olhos da tela, e poucos minutos se passaram até que fosse dada a informação que ela tanto queria “vôo 3914, no pátio”. Seu coração saltou no peito, acelerou tanto que parecia vibrar cada parte do seu corpo. “Ele já está aqui...”, pensou enquanto lágrimas ameaçavam em seus olhos castanhos. Queria ficar mais perto, queria que fosse a primeira visão dele naquela terra que tantas outras vezes, solitária, o recebera. Agora havia ela, havia alguém a esperar por ele, alguém que o amava mais que qualquer outra coisa em sua vida.
Aos poucos, um a um, os passageiros pegavam suas malas e deixavam a sala restrita. A angústia aumentava à medida que saiam pessoas e ela não o via. Homens sozinhos, engravatados, visivelmente cansados. Jovens animados, falando alto em seus celulares. Mulheres carregando crianças no colo. Casais de mãos dadas, felizes por terem chegado ao seu destino. Mas ele... Ele não vinha. Por que ficara entre os últimos? Por que prolongar aquela espera?
De repente, sentiu o celular chamando. Trazia-o em suas mãos, junto à chave do carro. Uma mensagem no visor, e logo abaixo, o nome dele. Sentiu o sangue gelar e um nó se fazer em sua garganta. Teve medo de ler, teve medo de ver ali palavras que a machucassem. Quando se conheceram ele estava a trabalho na cidade, e nas outras vezes, em função da rotina que tinham, era ela que tinha ido ao seu encontro. Teve medo que ele tivesse mudado de idéia, e ali, naquela situação totalmente nova para ela, tivesse mandado o aviso de que tinha desistido.
30 de janeiro de 2010
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4 comentários:
Ai, ai... encontros!
Parte II! Parte II! :)
Bem, agora eu fico nessa angústia desmedida em saber o que irá acontecer! rs. Eu sempre torço pelo final feliz, mesmo sabendo que muitas vezes, isso não acontece. Mas, o que seríamos de nós sem nossas crenças? Devemos acreditar sempre naquilo que nos dispomos, jamais algo pode mudar isso. Talvez, vez ou outra, passamos a enxergar as coisas de outra maneira. Mas, a crença sempre será a mesma.
Ah, vou repetir de novo: Você manda muito bem em contos. Descreve as cenas de uma forma ímpar!
Ansiosa pela segunda parte! :)
Beijãoooooo, Angel!
Ei, Jacque! Obrigada... Mando bem? Sei lá, viu... Mas é isso. Quanto ao final, já está escrito, embora eu hoje tenha amanhecido querendo mudá-lo.
Obrigada, mais uma vez, pelo carinho!
Abraços.
Seria estas excelenets entrelinhas somente contos?
Talvez, ñ sei. Mass isso ñ importa tanto desde o momento que eu tiver a certeza que vc está bem, que vc está feliz. Que você é a felicidade já é mais do que comprovado, é fato!
Admiro-te, my sweet angel!!!
Incontáveis abraços.
Carlo, apenas contos, é verdade, mas contos com um pouco de mim, e do que já vivi ou espero viver.
Suas palavras, sempre muito carinhosas, me emocionam. Obrigada pelo carinho, caro amigo.
Abraços!
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