30 de abril de 2010

Passou

A chuva está caindo lá fora e pela primeira vez, em muito tempo, não há lágrimas caindo aqui dentro. A noite, antes tão assustadora, agora é mais uma companheira, um alguém que me acolhe. A saudade mandei embora, fez as malas e saiu, se foi de mãos dadas com a dor que machucava o meu peito. Eu nada mudei, o mundo também não mudou, mas o tempo tratou de vendar meus olhos para o passado. E disse-me o tempo: “passou”. E então, não se trata de um recomeço, porque afinal, nada acabou, trata-se apenas de seguir em frente, de enxergar o futuro e viver o presente, abençoando o tempo pelo que hoje eu sou.

29 de abril de 2010

Das dores da vida

A dor no peito há muito não cedia, era como se algo lhe comprimisse o tronco, estrangulando o coração já tão fraco que mal batia. O corpo já não era o mesmo, carregava as dores de uma existência, sofria de noites insones e olheiras profundas, carregava um rosto sem vida a denunciar, aos gritos, uma alma muda. Mas aquele sofrimento era singular, tinha a certeza de que, antes, o sentiu apenas uma vez em toda a sua vida. Seria saudade? Solidão? Seria a falta daquele que a muito não via? Dor de amor é coisa séria, mataria aos poucos se não descobrisse a cura. Buscou médicos, apelou à psicologia. Já cansada de incertezas procurou a avó, calejada, que muito da vida já sabia... O diagnóstico? Nem amor, nem saudade. Idade. Tinha ganhado uma pneumonia.

27 de abril de 2010

Eis a certeza do amor

Eu sei que existe amor, como sei que existe um futuro para nós, e eu não duvido porque quem me disse isso foi você. Nosso amor foi tão grande naquele dia que você me deixou partir, tanto que me lembro bem que de tão intenso, entre ficar comigo e me perder, você escolheu me perder. Mas, eu sei, ficaremos juntos, é nosso destino, nascemos para tal, e assim será como no dia em que você, amando tanto que mal cabia em seu coração, me trocou por outra sem nem mais lembrar que eu existia. É por isso que eu não duvido, eu tenho a mais absoluta certeza de que nada mais te importa, que você sabe o quanto te amo e que a confiança em nós agora é plena. E é exatamente por isso que você pensará em mim e não só em você, e mais uma vez vai reiterar o que é eterno deixando claro que eu nunca fui parte alguma da sua vida. Você, como é típico dos que amam e são amados, vai preferir me perder para o seu egoísmo insano, e vai partir ao meio, mais uma vez, o coração de alguém que tanto te ama. Mas, eu sei, existe amor, assim como existe um futuro para nós.

26 de abril de 2010

Do que a gente espera...

Existe, em algum lugar do mundo, alguém disposto a me cuidar. Um alguém que há de enxergar além do óbvio, que deseja todo este amor que guardo, e que é dono de um carinho tão grande que seria incapaz de me machucar. Com um pouco de sorte eu o encontro, mas, se eu nunca o encontrar, rogo apenas que ninguém seja capaz de arrancar desse meu peito, fadado a ser sozinho, a certeza de que ele existe, e que sempre esteve e estará por ai, a me procurar.

25 de abril de 2010

Pretensões

Eu já quis mudar o mundo, ser mil vezes maior que a imagem no espelho. Eu já quis ser motivo de orgulho da minha família, uma força a ser superada pelos que contra mim concorriam, já quis um grande rol de amigos e um amor que durasse a vida inteira.

Mas, hoje, eu sou muito diferente disso, e na minha lista um único item deixa claro o que eu realmente quero. Sem grandes pretensões, no simples, no cotidiano, nas palavras, nos olhares, nos sorrisos, nos pequenos gestos, hoje, tudo o que eu quero, é ser feliz.

23 de abril de 2010

Pensando...

Acho eu, sem, é claro, ter certeza, que meu amor está tão perto de mim, quanto os meus dedos estão do céu.

E assim, quanto mais tento tocá-lo, mais ele se afasta, e muda, de cor, de tom, a ponto de me fazer pensar que é errado, ou proibido, tentar alcançá-lo.

Peço emprestado a...

Florbela Espanca:

“Lembro-me o que fui dantes. Quem me dera
Não me lembrar! Em tardes dolorosas
Eu lembro-me que fui a Primavera
Que em muros velhos fez nascer as rosas!

As minhas mãos, outrora carinhosas,
Pairavam como pombas... Quem soubera
Porque tudo passou e foi quimera,
E porque os muros velhos não dão rosas!

São sempre os que eu recordo que me esquecem...
Mas digo para mim: "Não me merecem..."
já não fico tão abandonada!

Sinto que valho mais, mais pobrezinha:
Que também é orgulho ser sozinha,
E também é nobreza não ter nada!”

21 de abril de 2010

O dia que eu jamais irei esquecer...

Das coisas que nunca me esqueci, das melhores, das mais intensas, nada seria comparado ao que eu viveria ali. Te ver saindo daquele carro, naquele dia sem graça em que o sol preferiu se esconder, te ver ajeitando a roupa, calmamente, com a atenção e o carinho que eu sempre atribuí a você. Te ver olhando em minha direção, como se você soubesse, como se sentisse que estava ali, a sua espera. Os olhos que eu nunca mais vou esquecer, mesmo que eu veja todos os outros que vagueiam por este mundo incerto. Sentir meu coração acelerado por não saber se você havia me visto, e mais, se havia me reconhecido, e depois, te ver dar-me as costas e partir, subindo as escadas que te levavam ao teu compromisso. Eu quis tanto sair de onde estava, e gritar seu nome para que pudesse me ver... Quis que você olhasse em meus olhos, que me visse por trás das lágrimas que eu já não conseguia conter. Foram os segundos mais eternos da minha vida, segundos que o tempo nunca há de apagar. Se eu pudesse, voltaria aquele exato momento, não te deixaria ir sem saber que eu estava tão perto, e te diria que nada, nem aquele encontro, me fez deixar de amar tanto você...

20 de abril de 2010

Das vezes em que morri...

É chegada à hora, não há mais tempo e ninguém será capaz de impedir. A morte está próxima, tão próxima que é possível senti-la respirando em você. Não tenha medo. O coração bate cada vez mais fraco, então aproveite, sinta que está acabando, sinta a vida sendo tirada de você. Pronuncie as últimas palavras, olhe em volta e guarde essa imagem antes de ir. Ouça o silêncio. Sente? Acabou. Seu coração parou de bater. Agora se levante e veja o que sobrou, mas seja breve, isso não vai durar muito tempo. Feche os olhos e relembre o que te fez morrer, desde o início, cada detalhe do caminho que te trouxe até aqui. Não parece inevitável? Percebe que nada mais fazia sentido ali? Não se culpe, na verdade não há culpados, e eu sinto que agora você já é capaz de aceitar.

Então vá, e sinta seu coração voltar a bater. Aos poucos, uma vez... duas... inversamente como ao morrer. Abra os olhos e veja que você está no mesmo lugar, mas que tudo mudou. Consegue perceber que você não é mais o mesmo? Tenho certeza que sim. A sua frente está um novo caminho, então, siga-o. Ele irá se dividir, talvez mais de uma vez. Escolha. E sabe o que acontecerá se você fizer uma escolha errada? Você irá morrer, exatamente como agora. E isso acontecerá quantas vezes for preciso, quantas vezes tiver que acontecer. Aceite e agradeça. Haverá um momento em que sua vida será tirada de fato, mas até lá, sempre que for preciso, morra, para logo depois, renascer.

Às vezes é preciso que uma parte de nós morra, para que possamos voltar a viver.

Da divisão de nossos bens

Quem foi que dividiu assim as nossas posses? Quem foi que disse que chegamos a um acordo? É injusto eu ficar com o sentimento enquanto você fica apenas com as lembranças. As lembranças você guarda em uma caixa qualquer, abre quando bem entender e só quando te der vontade. O sentimento sou obrigada a carregar no peito, pesando em meu coração que já não bate como deveria. Sinto dores a cada noite, mal vejo o passar dos dias. Enquanto você distribui sorrisos e diz, sereno, que foi um tempo bom. Devo acreditar em tudo isso, devo acreditar que pra você foi o que restou do que tivemos. Te ver vivendo com outra a vida que era minha, e eu sem saber ainda, se por amor ou por pena. Que seja, pra mim tanto faz. O que importa é que me abstenho da minha parte, te entrego o sentimento e se não o quiser, sinta-se à vontade para jogá-lo fora. Mas comigo, não haverá mais de ficar.

19 de abril de 2010

Na ilusão das palavras e na realidade dos gestos

Eu tento fugir de palavras bonitas, tento acreditar que elas não são únicas e que já foram muitas vezes ditas. Eu tento não pensar a respeito, não imaginar como seria estar ao lado, e conversar, e ter mais palavras, todas elas, juntas, e só minhas. Tento não pensar no beijo, no abraço e em tudo o mais. Tento não fazer planos, não procurar a compatibilidade dos defeitos, não enxergar todas as qualidades. Eu tento, e raramente consigo. Mas por sorte, ou por azar, as palavras são lindas, mas os gestos... nem tanto.

18 de abril de 2010

Então me diz...

... o que me importa?



É preciso pensar hoje, que amanhã pode ser tarde demais.


P.S.: Fazia bom tempo que não ouvia essa música. Obrigada pela lembrança Rodrigo!

16 de abril de 2010

Eu (te) quero

Estava na cama, aquela, a nossa, sabe? Me lembrando de coisas que eu já não tenho mais. Na verdade, vou ser sincera, eu só fui até lá, a essa hora, porque queria pensar em você, e o tempo inteiro, sem pause. Tentei me enganar com a idéia de que havia outras coisas em que pensar, mas... Iludida, eu sei, minha única saudade tem um belo nome, mas também atende por “você”.

Como foi que te deixei partir? Não entendo... Ou melhor, entendo sim. E de repente, as palavras vieram, sem chamar, pura inspiração! Digitei rapidamente no celular, ainda deitada, para não esquecer. Eis a mensagem, amor, que eu vou mandar para você: “Algumas coisas mudaram, eu mudei muito também, e tenho pensado bastante em você ultimamente. Se for recíproco, ou puder ser... Liga-me.” Simples assim.

Eu não mandei... Ainda. É que preciso esperar a hora certa, aquele momento exato que só eu sei. E eu vou mandar, e você vai ler, e daí, não tem mais volta, você vai saber que eu ainda te quero por aqui. E eu? Vou padecer, por medo do silêncio que pode vir. Ou não. Há esperança, eu sei. Eu acho, não tenho certeza. Quero de volta, muito. E isso basta.

15 de abril de 2010

A vida é assim...

... e a gente simplesmente segue, meio sem rumo, meio sem querer, morrendo de vontade de dar meia volta, mas, não pode, não dá, é "proibido retornar", avisa a placa.

Fazer o quê...

O comentário que virou post

Eu às vezes me pergunto, se sou eu quem dá vida à escrita, ou se é a escrita que dá vida a mim. E eu fico sem resposta, mas pudera, eu sequer tentei responder. Talvez, eu nunca descubra, mas, será mesmo que eu preciso saber? Então deixo assim, como está, deixo a palavra nascer franzina neste meu peito apertado, permear pela minha mente a tomar força e ganhar o mundo pela ponta dos meus dedos. Deixo ser, deixo estar. Quando escrevo dou voz a quem sou de verdade, à menina tímida e cheia de sonhos que se recusou a crescer. O que é certo? Posso dizer. A escrita deixará de ser minha, mas, apenas no momento em que eu morrer.

Porque vivemos de água, ar, e poesia.


Este post foi um comentário que fiz no blog da ErikaH (mudei umas palavrinhas apenas). Seu blog é inspirador, amiga, cada post lindo que... desperta isso em quem lê. Não ficou a altura do seu, mas releve, foram segundos de empolgação pela escrita... rs.

14 de abril de 2010

Escrever para não esquecer como é

Vai além da atração, além da vontade, trata-se de um querer extremo, de uma quase necessidade. É respirar tranquilo, é despertar sorrindo. É se aninhar em um abraço e não querer mais sair de lá, é dividir sem perder nada, é perceber que o caminho é ainda melhor quando há alguém ao lado. É poder ser oposto quando se está disposto, é ouvir o beijo, ler os olhos, conhecer, entender, aceitar. É saber que não há ninguém perfeito, mas que há alguém perfeito pra você. É saber que a história pode não ser como a dos livros, muito menos como a de uma novela. Que o final pode não ser dos melhores, mas que na verdade, é o meio que nos faz felizes para sempre. Com quem for. Várias vezes.


UPDATE - 08:58 h:

Me lembrei de uma música de Mart'nália. Quer saber? Não quero ter paz, quero mesmo é ter isso que escrevi ai em cima, quero ter amor!


(De amor e de paz - Mart'nália)

13 de abril de 2010

Carinho [9]

Se tem algo que faz este blog valer a pena, é as pessoas que passam por aqui.



Ganhei esse carinho da minha amiga ErikaH, uma pessoa de alma iluminada, de um coração imenso que transborda sentimentos. Me identifico com cada uma de suas palavras, como se eu houvesse sentido cada uma delas. Admiro você enquanto escritora, ErikaH, e de alguma maneira, mesmo te conhecendo pouco ainda, te admiro como pessoa também. Como eu te disse no comentário que te deixei em agradecimento, acho mesmo que nossas almas são parecidas, por isso foi tão fácil a gente se reconhecer. Obrigada pelo carinho e pelas palavras lindas que você me deixou ao oferecê-lo!

Vamos à regra...

Devo repassar este selo a 3 blogs que gosto de ler. Mas digo, de antemão, o quão difícil foi escolher apenas 3 blogs, pois acompanho tantos, e com tanto carinho, que é uma injustiça ter que oferecer para apenas 3. Então, simbolicamente, ofereço este selo a cada um de vocês, que em suas palavras enriquecem a minha vida diariamente. E o selo repasso a:

- Leonel - Passando a limpo o passado...

Leo, se hoje escrevo é porque você me incentivou a fazê-lo. Sempre admirei o escritor incrível que você é, e exatamente por isso, quero "ser como você quando eu crescer". Muitas vezes senti que as palavras te eram um fardo, outras tantas uma válvula de escape, teu desabafo, teu acalento, tua declaração de amor. Sinto que não há você sem a escrita, e sinto também que a escrita se orgulha de você. Escreva sempre, e eu estarei sempre lendo você.

Meri - Blog Meri Pellens

Meri, te conheço a pouco tempo e desde que nos conhecemos não me lembro de um dia sequer que você não tenha vindo me visitar. E eu estou sempre lá no seu cantinho também, porque aos poucos fui conhecendo uma mulher guerreira, carinhosa na mesma intensidade em que é forte. Gosto de sua sinceridade ao escrever, de quem dá a cara pra bater, não tem medo de expor sua opinião. Saiba que te admiro muito por isso.

Juliana - Palavras.. em Vão

Doce amiga Juliana, você tem sempre palavras lindas para deixar por aqui. Só consigo enxergar coisas boas em você, minha amiga, como serenidade, carinho, sinceridade. E agora, tão apaixonada, tem deixado todos que gostam de você felizes por te verem assim. Obrigada pela presença aqui e pelo carinho, espero contar com sua presença por muito tempo, pois me faz muito bem.


É isso. Não sei se era preciso falar um pouco das 3 indicações, acho que a regra é só indicar. Mas a ErikaH fez isso, e eu gostei tanto de saber o que ela acha de mim que me deu vontade de falar um pouco sobre vocês 3.

Abraços, amigos!

12 de abril de 2010

Eu hoje acordei assim

Fico pensando se é verdade essa história de “cedo ou tarde, paga-se pelos erros” ou se isso foi inventado para que nos conformássemos com quem se safa de suas cafajestagens. Estou cansada de quem se acha muito esperto, acima de tudo e de todos, que se acha no direito de agir conforme suas próprias regras. Cansada de ver quem usa de desculpas para cometer inúmeros erros, se faz de vítima de uma situação, como se bastasse ter um motivo para aliviar a culpa. Pois não, não basta, não alivia.

E daí vão dizer “e você é perfeita, por acaso?”, e eu respondo “não sou não, já fiz muita besteira vida afora e se eu for mesmo pagar por isso vou sofrer sim”. Então, eu quero o que? Que todos sintam o peso de seus atos, inclusive eu? Sim, quero sim. Se eu vou pagar ou não, não me importa, o que importa é que eu quero ver cada um colhendo exatamente aquilo que plantou, e sendo julgado, absolvido ou condenado, por isso.

E mais, torço por requintes de crueldade em caso de condenação.

10 de abril de 2010

Assim...

Hoje, nem que eu tentasse, conseguiria palavrear todos os meus sentimentos.

Peço licença à esta incrível cantora. Ela, em música, fala por mim.

Minha herança: uma flor



*Esta música, que veio a me dar voz, eu peguei no blog da amiga Viviane.

9 de abril de 2010

Administrando a vida

Fechar para balanço, fazer um levantamento de tudo o que foi adquirido, investido, dado ou recebido. Contabilizar perdas e ganhos, avaliar o quão válido foi cada empreendimento. Programar o resto do ano, definir novas metas, traçar datas, alternativas, fixar o mínimo, almejar o máximo. Porque grandes conquistas envolvem riscos, e muitas vezes, algumas perdas.

8 de abril de 2010

Pensando...

"Amor com amor se paga", já anunciava França Júnior.

E se o amor te trair e for embora? Ora! Pague com amor também!

Mas lembre-se que neste caso, pagar com amor-próprio é o que te convém.

Afinal...

"Tudo é amor. Até o ódio, o qual julgas ser a antítese do amor, nada mais é senão o próprio amor que adoeceu gravemente." - Chico Xavier.

7 de abril de 2010

O amor que liberta

Quando nos encontramos aquele dia faltaram-me as palavras para te descrever. Logo eu, que sempre sonhei fazer poesia quando o amor me encontrasse, não soube criar uma rima que fosse quando você me olhou. Daquele momento lembro-me de três coisas: do meu coração acelerado no peito, da vontade de rir e de chorar ao mesmo tempo quando você correspondeu, e de Mario Quintana sussurrando em meus pensamentos que “naquele dia fazia um azul tão límpido, meu Deus, que eu me sentia perdoado pra sempre não sei de quê”. Porque ali, naquele momento, mesmo sem saber, você me perdoou, meu amor. Me perdoou por todos os sentimentos que cultuei antes de você aparecer, por ter desdenhado do amor pensando que ele só me faria sofrer, e você me perdoou porque sabia que nenhum dos elos que tive seria comparado ao que estava me unindo a você. Vivi a vida em penitência, meu amor, e o seu perdão me libertou.

5 de abril de 2010

Do hoje

Já não havia palavra a ser dita, morreram as letras que habitavam aqui dentro. Calaram a voz da minha escrita, condenaram o viver do meu sentimento. Na caneta ainda havia tinta, mas o papel velho e amarelado me deixava clara a sua rejeita. Sem destreza perdeu-se a prosa, adoeceu a poesia sem sua rima perfeita.

Noite minha antes tão carinhosa, que me trazia as mais belas palavras como o amante a presentear com um buquê de rosas, agora chega tímida e envergonhada, como quem pede desculpas pela estrela que me foi roubada. Sem o brilho a iluminar meu peito, o vazio nas linhas era apenas uma questão de tempo.

Mas esta madrugada, piedosa do meu silêncio, devolveu-me as palavras em um singelo manuscrito. E como o último gole dado ao bêbado que está morrendo, bebi as letras que sustentam minha alma como alimento. E se agora vou morrer ou não, me resguardo a dizer que é incerto, minha única certeza é que eu morreria feliz se a vida me fosse tirada neste exato momento.

Uniram-se as palavras, deram formas às linhas abandonadas. E por hora, anestesiada pelo calor da escrita, finalizo o que nunca terá fim, dizendo apenas, que estou de volta.


Time after time – Norah Jones