13 de janeiro de 2010

O mágico, o palhaço e o equilibrista

Era uma vez um grande circo, que atrás de platéia corria o mundo. Muitos artistas o compunham, mas hoje, apenas três deles conheceremos a fundo:

O mágico era dos três o mais admirado. Senhor de muitos segredos, seduzia a platéia com mistérios que nunca eram revelados. Abriam-se as cortinas e ele brilhava, seu show era por todos o mais aguardado. Mulheres se encantavam e por ele se apaixonavam, homens sentiam inveja e até o odiavam. Uma máscara cobria-lhe o rosto, "faz parte do mistério", muitos pensavam, mas na verdade aquela máscara cobria um rosto desfigurado. Mal sabia a platéia, que fechando-se as cortinas, quando longe dos holofotes o mágico ficava, triste vida tinha pela solidão que o cercava. Para ter sucesso, sua identidade e seus truques deviam ser guardados, e sem poder dividir nada, tristemente vivia engaiolado.

O palhaço era também muito esperado. Querido pelo público, no palco era como se para outro mundo fosse levado, era onde conseguia abandonar os problemas, e ali, para ele, ser feliz era tão simples como um sorriso arrancado. Tinha alma de criança, pouco se preocupava com ele e muito com quem estava ao seu lado, mas quem o via rindo e fazendo graça, não imaginava o quanto seu peito estava apertado. O público acarinhava seu coração tristonho, que tantas vezes fora deixado de lado. Mas o que mais o entristecia era o descrédito que lhe davam quando as cortinas fechavam. Por ser chamado de palhaço, até mesmo os artistas que com ele trabalhavam, debochavam de sua vida e com ele brincavam. O dono da alegria era triste, porque não sabia o que era ser respeitado.

O equilibrista não era muito habilidoso, mas de tão esperto permacera no circo forjando espetáculos. Seus números eram simples e de incrível nada tinham, mas prendia o público com a criatividade com que tinha sido agraciado. Enfeitava cada ato com peças bonitas e brilhantes, e com elas a platéia se encantava, tanto que seus erros passavam despercebidos, inclusive, pelos colegas de estrada. O equilibrista era falso, no palco e fora dele. Os colegas, envolvia como peças, brincava com um e outro e achava graça. A inveja o corroia, mas não deixava que ninguém soubesse, preferia fingir ser amigo de todos na tentativa de que algo lhe sobrasse. Mal sabia ele que estava fadado a ser coadjuvante, que jamais seria hábil como o mágico, nem querido como o palhaço.

Três personagens e seis histórias, cada um com uma dupla face. Assim também são as pessoas, nós enxergamos apenas o que elas nos permitem ver, mas nos esquecemos que por trás do que vemos, pode estar algo completamente diferente da realidade, mal sabemos que por dentro de cada uma delas, pode existir uma outra face.

7 comentários:

Jacque disse...

Bem, vamos ao seu texto que já adianto aqui, é simplesmente incrível!!! Angel, você escreve muito bem. Isso é uma prosa poética das melhores que já li! Sem exageros, é um elogio mesmo, de professora e amante da boa leitura. Impressionante como me identifiquei também. Vejo nitidamente pessoas as quais conheci, aí declaras nessas personagens! Me vejo também. (Acho que sou o palhaço) Mas, enfim... Isso me faz pensar que realmente coração é terra que ninguém pisa, que jamais as pessoas irão realmente saber quem somos, pois nem mesmo nós sabemos ao certo. Me chamou muito à atenção o mágico, e como... Realmente me fez pensar...

Ei, você manda bem mesmo, acredite. Adoro vir aqui, suas colocação são sempre inteligentes, intensas e muitíssimo verdadeiras!

Um abraço carinhoso também!

P.s: Que bom que se identificou com meu último post.

Jacque disse...

* suas colocações!

(ajeita aíii) rs!

Angel disse...

Jacque, minha amiga professora, gostou mesmo? Olha, vindo de uma especialista em letras, fico orgulhosa! Obrigada, de verdade.

Acho que cada um reconhecerá alguém em um, ou em mais de um, personagem. Talvez, como você, identifique a si mesmo. As pessoas podem ser muitas em uma só, não é mesmo?! E isso pode ser tão fascinante quanto perigoso.

Abraços, Jacque! E mais uma vez, obrigada!

Luís Gonçalves Ferreira disse...

Eu não sou professor (como a nossa amiga Jacque - um forte abraço para ela), mas digo-te que está soberbo. Muitos deveriam ler e outros ter a capacidade de o escrever. Com estória se fala da verdade das pessoas. Não fosse a vida ela mesma uma instância carregada de lendas, contos e coisas inventadas, outras reais e algumas futuras.
Muito bom, parabéns.

Beijo

PS.: Eu quando vim a primeira vez ler esta postagem não consegui perceber nada daquilo que o comentador queria dizer. Lembro-me que era luso, infelizmente. Peço-te desculpas por Portugal, que não gosta nada de ter gente demente e parva por estas lindas bandaS :)

Angel disse...

Luís, fico feliz que tenha gostado! Entre o real e o imaginário talvez nem haja tanta distância assim, não é mesmo? Obrigada pelo carinho!

E quanto ao comentário desastroso que me fez moderar os comentários, nem se preocupe, pessoas assim estão em qualquer lugar. Não guardarei nenhuma impressão negativa de seu pai, pelo contrário, só tenho motivos para admirá-lo.

Abraço carinhoso.

leonel disse...

Faces, fases e frases... Todos temos um pouco desses “3 F”... O que prepondera? Isso depende da escolha de cada um.

Belo texto, Angel!

Abraço

Angel disse...

Leo, somos muitos, e tão ricamente criados que fica quase impossível ser um só. Faces, que talvez mudem com as fases, influenciadas pelas frases, pelo enredo, pela vida.

Obrigada!

Abraço.

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