As horas passaram sem que ela percebesse. Perdeu-se na lembrança dos tantos momentos bons, de intenso sentimento e cumplicidade, que tiveram antes de perdê-lo. Em seu último dia juntos, o viu na cama, deitado. Ele estava magro, debilitado pela doença que os médicos não podiam mais vencer. Perdera os cabelos negros e tão lindos que tinha, e seu rosto pálido contrastava com suas olheiras profundas. Sentada ao seu lado, segurando uma de suas mãos com as suas, chorava vendo seu grande amor, aos poucos, partir.
Ele abriu os olhos, deu a ela seu último sorriso e sussurrou algumas palavras.
"Prometa que terá juízo? Não estarei mais aqui para te moderar..."
"Pare com isso! Quantas vezes já disse que você não pode me abandonar?!"
"Não vou te abandonar nunca... Eu estarei sempre ao seu lado, cuidando-te, como sempre fiz desde que nos conhecemos. Quando ficar triste lembre-se dessas palavras que te deixo, você é a mulher mais amada de todo este mundo, e o será enquanto existir algo meu em qualquer lugar desse universo. Sou aquele que não quis outra coisa nesta vida que não estar contigo. E se agora devo partir é porque chegou a hora de caminharmos separados... Mas entenda, amor, abandono o corpo, mas minha alma sempre estará ao seu lado."
Ela deitou a cabeça em seu peito, dando-lhe um abraço. Ele respirou fundo e fez a ela seu último pedido.
"Prometa que nunca mais irá chorar por mim. Que se lembrará somente das coisas boas que tivemos. Promete?"
"Prometo"
"Eu te amo"
"Eu também amo você"
E ouvindo dela estas palavras, fechou os olhos. Deitada sobre seu coração, ela o sentiu bater cada vez mais fraco, se perdendo aos poucos, até parar.
Dias e noites seguiram sem que ela uma palavra dissesse, as lágrimas com o passar dos dias secaram, nem chorar mais conseguia. Os anos passaram, e pela primeira vez teve coragem de voltar a aquele lugar em que tantas vezes estiveram. Não conseguiu... Chorou. Pela primeira vez em tantos anos, descumpriu a promessa que fizera ao se lembrar dele. Em pensamento pediu desculpas, pois sabia que ele ali estava. Mas a saudade era tamanha que não conseguiu conter o sentimento.
Ali, sentada sob a figueira, com ele ao seu lado, velando por ela, adormeceu enquanto as lágrimas caiam, sem saber que quando este momento chegasse, quando a promessa descumprisse, finalmente se libertaria. Um sono eterno se fez. Ao acordar o viu de pé, ao seu lado, mãos estendidas, sorriso no rosto. "Vem, amor". E a levou consigo, para que não mais se separassem.
E assim, cercados pelo amor que os unia, caminhariam novamente juntos, pela eternidade. Exatamente como deveria ser...
14 de janeiro de 2010
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4 comentários:
Angel...Que lindo! Isso me trouxe à tona algo que à mim é coincidente. Em agosto, escrevi vários poemas, que referiam-se a situações semelhanteS a essa que descreveu tão bem nesse conto. São eles: Por toda a eternidade, Condenados, Ruídos do tempo, Campo de flores e Ausência, se puder ler um dia, verá que faz sentido. Ah, Angel! Seu conto me tocou de uma forma imensamente profunda, acredite.
Parabéns!
Abraços sinceros!
Ei, Jacque, vou ler sim, com certeza. Este texto foi escrito hoje pela manhã, assim que acordei. A inspiração? Um sonho. Tenho sonhado com a mesma pessoa por duas noites seguidas, alguém que nunca vi, ao menos, não que eu me lembre. Acordei absurdamente emotiva, com uma tristeza que vinha não sei de onde. Foi assim o dia inteiro... Coisas que a razão desconhece.
Abraços!
P.S.: Li sua resposta ao meu comentário. Jacque, repito, precisando, chame.
Muito linda a postagem...
sensivel... tem um quê de arrepio e desejo.
mas tem amor e também carinho... um carnho especial, profundo, intenso.
muito bom!
extamente como deveria ser?
não sei se eu acredito nessa frase que por vezes me persegue. rsrs
beijos,
Nii
Oi, Nívea, que bom receber sua opinião sobre este texto! Fico feliz que tenha gostado.
E quanto a frase, o que há? Desculpe, curiosidade mesmo, afinal, anjos quando não sabem, querem saber de tudo! rs
Abraços, e volte mais vezes.
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