18 de fevereiro de 2010

Porque nunca estamos sozinhos...

Era uma bela manhã de domingo, o céu mostrava um azul límpido e o sol brilhava cada vez mais forte. Algumas crianças brincavam em volta do lago, sob o olhar atento dos pais, sentados na grama. Homens e mulheres se exercitavam, casais passeavam com seus cachorros e a alguns metros, do meu lado esquerdo, um senhor tentava ganhar a vida vendendo pipocas. Um típico domingo, e como sempre, eu estava ali.

Aquele banco já se tornara meu, aquela sombra já me conhecia, as flores me eram companheiras e eu assistia seu desabrochar com o passar das semanas. Era primavera, o vento fresco tocava meu rosto e brincava com meus cabelos, eu sorria. Em minhas mãos um livro que eu guardava especialmente para aquele dia. Aos domingos eu me reservava uma história, o que fazia com que um livro durasse semanas, meses até.

Mas, estranhamente, naquele dia, a presença das pessoas me incomodava. Não sei se exatamente a presença ou se era como elas estavam. Não havia mais ninguém sozinho ali, apenas eu. Ainda procurei com cuidado, olhando todos que estavam a minha volta, mas, era fato, apenas eu não tinha com quem compartilhar o estar ali. Baixei meus olhos por alguns instantes, fechei o livro e o coloquei ao meu lado. Senti o peito apertando, me deu vontade de chorar. Procurei em minha bolsa pelo celular, precisava ligar para alguém, ouvir uma voz qualquer, saber que em algum lugar alguém estava comigo, mesmo de longe. Não encontrei, devia tê-lo deixado em casa, ainda sobre a escrivaninha, com certeza. Coloquei meus óculos escuros, me encostei no banco, trouxe minhas pernas em direção ao peito e as abracei, se fosse para chorar, não queria que ninguém visse.

Fui trazida à realidade quando sua mão pousou sobre meu ombro. Assustada, me virei instintivamente.

“Eu sabia que você estava aqui”, falou ele, abrindo um sorriso logo em seguida.

“Ei... o que você está fazendo aqui”, já me levantando para dar-lhe um abraço.

“Estava em São Paulo cuidando de alguns negócios, estou voltando para casa, mas, quis passar aqui e te ver... Eu estava com saudades de você.”

“Eu também estava... Nossa, como estava...”

Ele me abraçou forte, e com uma das mãos acarinhou meus cabelos enquanto colocava seu rosto bem próximo ao meu.

“Você ainda usa o mesmo perfume”, disse, me fazendo rir.

“Sim, o mesmo... Isso é ruim?”

“Não... Na verdade, você não mudou nada, está exatamente como eu me lembrava”

“Você também não mudou. Mas, não se passou tanto tempo assim para grandes mudanças, não faz nem dois anos.”

“É verdade, mas parece que faz muito mais”, disse ele olhando em meus olhos.

Senti como se ele me visse por dentro, como se aqueles olhos enxergassem bem mais do que eu gostaria que vissem.

“Você está triste? Não, espere... não é uma pergunta. Eu te conheço, sei que está. Vamos lá, me conte o que está acontecendo”

E ele realmente sabia, como sempre soube. Nos conhecíamos há alguns anos, há uns poucos não nos encontrávamos, mas ele sempre sabia. Naquele dia eu contei à ele tudo o que se passava, chorei como pensei que faria mas fiquei feliz em não fazê-lo sozinha. À beira do lago, naquela manhã de domingo, pela primeira vez eu soube como era estar ali com alguém ao meu lado. Falei de mim, o ouvi falar sobre ele, e assim o tempo passou sereno, como há muito eu não sentia.

No mesmo dia ele se foi, mas ele há de voltar. Nossos caminhos cruzam com o de muitas pessoas vida afora e quis Deus que o meu e o dele se cruzassem, e nunca mais se separassem de todo. Haverá outros domingos, ou segundas, terças, o que for. Porque algumas pessoas sempre voltam, nos acalmam o peito e nos fazem entender que quem sabe plantar bons sentimentos sempre terá bons momentos a colher.

Então... Volta logo.

12 comentários:

Juliana Matos. disse...

Angel isso me pareceu verdadeiro, é?
Mais realmente nunca estamos sozinhos, mesmo que a solidão nos atinja, há sempre alguém que precisa do nosso abraço!
Um abraço ;)

Luís Gonçalves Ferreira disse...

Que linda estória. Um dia fazemos um livro em conjunto. Assim uma coisa multi-cultural, entre dois países irmãos, e duas pessoas amigas. Ia ser fantástico :)

Beijo

Angel disse...

Então, Juliana, temos aqui parte realidade, parte ficção. Que parte é ficção? Acho que, a melhor parte... rs.

Abraços, minha amiga!

Angel disse...

Luís, será que sou capaz de acompanhá-lo nessa? Talvez... se você me deixar colocar um pouquinho de "doce" em nossa escrita. Pode ser? rs.

Mas o seu já está a caminho, não é?

;)

Abraços, querido Luís!

Carol Addams disse...

Lindo seu texto a principio senti uma aflição, mas com o passar das linhas fiquei com um sensação boa, esperança!
Muito bonito!
Beijos

R. Santiago disse...

Lindo texto! Fiquei realmente comovido.

Parabéns.

Abraço.

Luís Gonçalves Ferreira disse...

Angel, antes estivesse a caminho. Eu quero fazê-lo, mas não ideias nenhumas. Mas um dia irrito-me e escrevo-o :)
E sim, pode ser docinho. Um capítulo vai ser teu. Já decidi.

Beijoooo

Angel disse...

Então, Carol, a vezes é assim que acontece, quando a gente menos espera, o vento muda, o dia se transforma, a tristeza vai embora...

Que bom, né?

:)

Abraços!

Angel disse...

Santiago, obrigada! Gosto muito quando consigo transmitir meus sentimentos a quem lê.

Abraços, santinho!

Angel disse...

Ooooba!! Vai ser o capítulo mais romântico, mais melosinho, mais doce que já se viu!! rs

Mal posso esperar!

:D

Abraços, Luís!

Unknown disse...

Viajei na história anja...
Tão lindooooo
Bjin linda
=)

Angel disse...

Que bom que você gostou, amiga Bia!!

:D

Abraços, e se cuida ai.

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