23 de fevereiro de 2010

Nem a chuva, nem o sol... talvez o tempo.

A luz invadiu pela fresta e abriu caminho na escuridão. Inúmeras tempestades confrontaram aquela porta, o sol forte, as ventanias. Os intempéries foram poderosos e criaram uma fissura, e talvez, se insistissem um pouco mais, criariam uma grande fenda. Mal sabiam que algo infinitamente mais poderoso seria capaz de abrir a porta sem danificá-la. Tratava-se do tempo, que agia sutilmente a espera da melhor hora.

A claridade mostrava o vazio, a triste certeza de que nada mais havia ali. O silêncio parecia gritar, ecoando sombrio entre os cantos daquele lugar desocupado. Ali já fora abrigo, já fora casa de uma pessoa só, alguém que não apenas vivia, mas que também cuidava com carinho do lugar que era seu. Havia cores e um cheiro suave de rosas, mas hoje o que se vê, com a luz que invadiu sorrateira, é uma total ausência de tons e o cheiro que se sente é o do abandono. Já não há mais nada que lembre os bons momentos que antecederam a partida.

Ciente de que já era hora, o tempo fez a porta se abrir com um leve sopro. Do lado de fora alguém encarava aquele espaço sem saber ao certo o que fazer. Os olhos curiosos ainda se mostravam tímidos, e temeroso, se aproximou. Percebeu do que se tratava, e mesmo diante do visível abandono, soube que ali viveria com conforto. Aquele lugar precisava de quem o cuidasse, de quem desse a ele a devida atenção e amparo, e ele o fez. Permitiu que a luz invadisse de todo, buscou flores, belas rosas, coloriu as paredes. Dia após dia ele se dedicou em consertar os estragos causados pela falta de cuidados. Aquele lugar se tornou a sua casa, o lugar para onde ele sempre queria voltar. E ela o permitiu de todo, percebendo em cada gesto que ele cuidaria dali com todo o carinho com que era necessário cuidar.

Não se sabe se ele irá morar ali para sempre, assim como não se pode saber até quando ela o permitirá. O que se sabe é a lição dada pelo tempo, que calmamente se mostrou mais forte que qualquer outra força. E ele, o tempo, é tão fiel às tarefas que lhe são dadas, que se não for capaz de sozinho consertar certos estragos, trás quem tenha as ferramentas e se encarregue de encerrar a sua empreitada.

4 comentários:

Juliana Matos. disse...

Perfeito, como diz, o tempo realmente é um bom conselheiro, uma boa ferramenta que conserta muita coisa em nossas vidas, mais não podemos somente esperar pelo tempo, temos que também fazer nossa parte! Mais o tempo nos traz tanto, mostra tanto, que as vezes a espera é gratificante, espero que o tempo me traga boas experiências!
Um abraço Angel

Angel disse...

É isso, Juliana, são os créditos dados ao tempo... E realmente, se a gente não se ajudar, não há tempo que dê jeito!

Trará, com certeza!

:)

Abraços, minha amiga.

Marta disse...

angel, obrigada pelas suas palavras e visita :)
bjo

Angel disse...

Imagina, Marta... Gosto bastante de seus posts.

Abraços.

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