Não é a primeira vez que tenho uma discussão tão acalorada com este meu amigo. Nossos desentendimentos são, de certa forma, restritos, ou explicando melhor, basicamente nos desentendemos sobre relacionamentos, sobre o comportamento das pessoas em relação a elas mesmas e aos outros. Apesar de me deixar triste tamanho ceticismo que vem dele, eu não o julgo e o respeito muito, principalmente porque sei que posso estar errada em muitas das minhas colocações, e mais, é bom ouvir coisas que não passam pela minha cabeça, é como se ele fosse meu “choque de realidade”.
Apesar de tudo que vejo, ainda acredito nas pessoas. Somos animais, é verdade, mas seres pensantes, com inteligência, raciocínio, e perfeitamente livres para escolhas. Ele me disse que somos autodestrutivos, que nascemos com a “sementinha do mal” plantada em nossos corações. O ser humano é o caos, ele me diz sempre, e por isso vive coberto por máscaras, tentando se ajustar a um código hipócrita de conduta social. Tem instinto de sobrevivência, nada mais. Segundo ele, se todos agissem como bem querem, ai sim poderíamos julgar de maneira verdadeira como somos enquanto seres humanos, porque da maneira como vivemos, somos farsas. Os relacionamentos para ele, de uma maneira geral, são ferramentas que inventamos para sobreviver, para ganhar alguma coisa e/ou para garantir o que já é nosso. Não sou ingênua a ponto de achar que não é assim, que as pessoas se relacionam simplesmente por afinidade e por carinho aos outros, é bem verdade que muitas aproximações são por interesse, mas não se pode generalizar. Concordo quando ele diz que enxergamos máscaras e não rostos de verdade, e parte disso se deve, sim, aos padrões de conduta estabelecidos. Mas imagine se todos pudessem fazer o que quiser, agir como quer, falar o que quer, sem pensar nas interferências disso na vida dos outros. Isso sim seria o caos. Há padrões de conduta? Há, e não sei se estão todos certos, se alguns são “excluidores”, preconceituosos, hipócritas, mas há. E acho que o atual padrão foi o que o ser humano chegou de mais próximo ao bem comum. Há o que ser revisto, porque as pessoas mudam com o tempo, mas, por hora, é o que temos, e acho sim, que isso “nos controle”.
Quando falamos de casamento então... Ai sim o assunto rende. Totalmente descrente da instituição, ele se apóia na privação que o casamento impõe, nas cobranças desmedidas, no sentimento de posse que um assume sobre o outro. Confesso que gosto da idéia, que penso sim, em me casar. Não me refiro a toda aquela cerimônia, vestido de noiva, padrinhos, igreja, não sei quantos convidados, até porque não sou católica, então a cerimônia religiosa mais comum por aqui (Brasil) não sei se terei. Mas acredito que uma união pode dar certo, e que duas pessoas podem ser felizes juntas, mais que se estivessem sozinhas. É preciso abrir mão de uma parte da sua liberdade? Obvio que é. A premissa é ficar com aquela pessoa, e só. Mas não condeno quando o casal concorda com o contrário e aceita um relacionamento aberto. Não condeno porque é algo feito as claras, é acordado entre os dois, ninguém é enganado. A maioria dos casamentos tem fracassado? Sim, é visível. E tenho uma opinião do porque disso. Volto na história das máscaras, algo que concordo com meu amigo, nos mascaramos querendo ser perfeitos, porque a sociedade nos exige isso e porque queremos, a qualquer custo, alcançar nossos objetivos, escondemos defeitos, forjamos qualidades, aceitamos coisas no outro que não gostaríamos, e que ficam remoendo por dentro. E como ninguém consegue fingir para sempre, depois do casamento, e do tal atestado de posse, a verdade acaba aparecendo. Um pouquinho aqui, um pouquinho ali, e vamos nos decepcionando porque a pessoa que começa a se formar, ou melhor, a se mostrar, é completamente diferente daquela com a qual nos casamos. E como posso ficar com ela se não foi por ela que me apaixonei?
Além disso, vejo também a facilidade com que as pessoas abandonam um relacionamento, e não só o casamento, namoro, mas amizades também. Não me agradou? Eu troco. Antigamente os casamentos duravam muito porque as pessoas aceitavam muitas coisas, eram mais passivas, principalmente as mulheres. Se acho isso certo? Não, não acho certo. Ninguém tem que aguentar certos comportamentos do outro e ficar ao seu lado mesmo assim. Mas qualquer coisa virou motivo para separação, pouco se fala, falta vontade de conhecer os fatos, de entender o lado do outro, de reconhecer os próprios erros. Estamos egocêntricos demais para aceitar qualquer coisa.
Ninguém tem que casar. Ninguém tem que manter qualquer tipo de relacionamento. Isso não é uma obrigação, e por mais que a sociedade te “aponte” quando você passa dos 30 anos e ainda está solteiro, isso por si só não é um motivo para casamento. Tenho um colega de trabalho que trái a mulher sem nenhuma culpa, e em meio a uma conversa que tivemos sobre isso, quando perguntei a ele porque então ele se casou se ela não o satisfaz, ele me disse que “uma hora todo mundo tem que casar”. Discordo. E pior é envolver outra pessoa nisso, porque a mulher dele é uma pessoa ótima, trabalha muito e não faz idéia do que se passa.
Me desculpem, mas, me recuso a desacreditar, dessa maneira, nas pessoas. Para mim valores estão sendo perdidos, a educação, e não me refiro a que se recebe na escola, mas sim a que se recebe em casa, pouco existe e talvez esteja ai a raiz do que o ser humano tem se tornado. Focamos no ter, quanto mais você tem melhor você é. Alimentamos diariamente nosso egoísmo, nosso egocentrismo, e isso se reflete nos relacionamentos, sejam quais forem. Mas podemos ser melhores, eu sei que podemos.
Post longo... espero que tenham tido paciência para ler.
23 de fevereiro de 2010
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22 comentários:
Nossa flor...
Que post poderoso esse, viu..
Eu concordo mto com o q vc disse aki
Fui casada há 6 anos e sei como é...
Aguentei até o último fio, até onde num dava mais...
Mas qdo o respeito pelo próximo acaba...
Aí acaba o amor, acaba tudo...
É o q eu sempre falo...
Se num for recíproco, naum vale a pena...
E q as pessoas deixem suas máscaras somente pro carnaval...
Naum tem coisa melhor pra si e pros outros
Do q ser vc msm... autenticidade é alma da pessoa!
Confio plenamente nisso.
A-D-O-R-E-I!!
Bjin e bom dia
=)
Bia, essa palavra que você citou é importante demais: respeito. Em qualquer relacionamento, se houver respeito muitos desentendimentos, e sofrimentos, são evitados. Você fez o que pode em seu casamento, e isso já é ótimo! Pode ter perdido a batalha, mas não desistiu de lutar. E além do mais, a "males" que vem pra "bem".
Obrigada pelo carinho, minha amiga! Gosto muito da sua presença por aqui.
:)
Abraços.
Angel:
Passei por aqui para retribuir sua visita ao Duelos Literários e li seus textos.
Por isso gostaria de convidá-la a participar do Duelos: é só enviar textos sobre temas de sua escolha, deixar nos comentários e os textos serão postados lá, com o link do seu blog.
Um abraço e parabéns pelo seu blog!
Vivemos numa sociedade infinitamente estúpida e corrupta. Somos ensinados desde cedo a competir, acreditar e aceitar os padrões estabelecidos. Quando alguém desdenha dessas obrigatoriedades nem sempre é aceito. Eu tenho uma opinião bem semelhante a do seu amigo, e muitas vezes, fui criticada por isso. Rotularam-me de insensível e até maluca, mas isso pra mim já não importa, pois, eu sei quem sou e reconheço que essa maneira de pensar assusta as pessoas.
O mundo é muito feio, Angel. Aprendemos justamente quando nos deparamos com a dura realidade. Antes, eu acreditava em muitas coisas. Sempre fui alguém que defendeu com unhas e dentes certas colocações tradicionalistas, mas depois de ver, ouvir, sentir, saber e principalmente aprender muito, digo sem a menor sombra de dúvida: enquanto não houver a revolução da consciência nada será mudado. Enquanto o ser humano se ver algemado como os moradores do “mito da caverna” que de longe só viam as sombras do que eram, nada irá mudar. As pessoas sentem medo de se assumiram, de deixarem claro o que querem e sentem, então, usam máscaras e se submetem por medo de serem julgadas. Muitos estão bem e felizes em seus casamentos. Será? Pois é, as coisas nem sempre são como parecem.
Não creio que por não mais eu acreditar em certas coisas, deixei de ser sensível. Ainda tenho a esperança de dias melhores, mas isso só acontecerá quando houver a revolução da consciência. O conhecimento pleno de que somos livres, não precisamos de nada que nos impeça. Ser livre pra você mesmo é o primeiro passo. “Conhece-te a ti mesmo” – Já disseram. Eu creio que, não haveria caos ou insensibilidade se as pessoas pensassem num bem comum. Eu te faço feliz se você me fizer feliz. Não adianta é uma troca, isso não mudará nunca.
As pessoas mentem, nos fazem sofrer e até desacreditar em algumas coisas. Mas, o que conta de fato, é não desacreditar em nós mesmos, porque se isso acontecer, nada mais irá adiantar. Devemos acreditar em nossas verdades e defendê-las. Se com o passar do tempo, reconhecermos que não era bem assim, não iremos mais sofrer por isso, porque já estaremos “ preparados”. Enfim, é assim que entendo sobre tudo isso que você expôs tão bem em seu texto.
Acho que ficou confuso isso aí, mas,resumindo, deixo uma máxima de uma amigo que amo muito, ele sempre diz: "Ei, vingue-se do mundo sendo apenas feliz"
Na realidade, se formos pensar nisso tudo, deixamos a vida passar, enquanto poderíamos estar desfrutando de uma centena de momentos felizes, e isso é o que realmente importa.
Afe,eu escrevo demais :(
Beijo, excelente texto!
Shintoni, agradeço pela visita e pelo interesse pelo que escrevo! Olhei o Duelos algumas vezes, há textos incríveis lá! Obrigada pelo convite.
Vou dar uma olhada nos meus posts e selecionar algo interesse para deixar lá.
Abraços.
Jacque, assim como respeito a opinião do meu amigo, respeito a sua.
Você começou seu comentário falando de algo que citei no texto: "Somos ensinados desde cedo a competir, acreditar e aceitar os padrões estabelecidos". Acho mesmo que as coisas estão como estão, que a sociedade é tão hipócrita e corrupta, porque o indivíduo não tem recebido os valores que deveria.
Quem sabe assim o mundo não seria mais bonito?
Ótimo comentário, Jacque.
Abraços.
ès sempre bem vinda a minha eternidade;)
Nuno Miguel
Obrigada, Nuno. Faço de suas palavras as minhas. Volte mais vezes!
Abraços.
Assunto polêmico... De uns tempos para cá venho desacreditando no casamento, sim falta compreensão. Um simples dia que alguém chega atrasado já é motivo para ciúmes compulsivos obsessivos. Isso é loucura o ônibus atrasou, faltou combustível o taxista demorou a chegar. Imprevistos acontecem, mas as pessoas perderam a capacidade de escutar e a confiança. Para mim um casamento só daria certo com confiança e compreensão. Todos têm defeitos, mas às vezes as qualidades superam os defeitos e é por isso que às vezes vale à pena tentar.
Beijos, flor.
Interessante Angel, que o casamento, a família, tudo tem relação a valores, valores que o indivíduo está deixando de lado e propiciando sua vida apenas a coisas materiais! É uma pena! Mais de uma forma ou de outra ainda encontramos pessoas que ainda preservam e isso é bom, como vc e eu também, não deixo de forma alguma de me ater a certos preceitos como respeito, atenção, amor e outras formas de comportamentos, essenciais para se viver bem e bem com as pessoas ao nosso redor!
Adorei o texto, escreva sempre!
Um beijo da Ju ;)!!
Carol, esse foi um dos temas abordados no papo com meu amigo. Falamos bastante sobre isso que você acabou de citar, da desconfiança, do ciúme desmedido. É por isso que detesto generalizações, como aquele papo de "ah, está traindo, com certeza, afinal, é homem". As pessoas generalizam, e baseadas em más experiências julgam os demais. Soma-se a isso a impaciência, o imediatismo, o egocentrismo.
Enfim, como você disse, assunto polêmico...
Abraços, querida Carol.
Juliana, é por isso que não desisto das pessoas... Porque eu sei que há quem pense como eu, que há por ai gente que dá valor ao sentimento. Sei que é utópico pensar em um mundo de pessoas mais verdadeiras, cujos valores as façam respeitar a si e aos outros simplesmente porque foi assim que aprenderam a ser, mas, me contento em saber que há quem assim seja, e quero muitos pessoas assim próximas a mim.
Abraços!
Concordo contigo, Angel, mas não podemos esquecer de que a fragmentação de conceitos, instituições e valores também se deve a nós mesmos. Não traçarei comentários delongados, embora este tema seja polêmico, e, portanto merecedor de análises sóbrias e acuradas, mas ainda penso que além de nossa responsabilidade direta, ainda existe a indireta, exercida por uma mídia cada vez mais poderosa, e, comprometida a destruição de tais conceitos, instituições e valores, em prol de alguns números que lhe garantam a liderança sobre os outros meios de comunicação. Muitos questionam o pq de eu raramente ver televisão, pois eu vos digo que hoje há muito pouco o que se aproveitar dela. O ibope fala mais alto do que qualquer valor educacional, moral, e, formador de opiniões. Sem qualquer sombra de puritanismo, acredito que a mídia é sim uma deformadora, e, como as pessoas estão cada vez mais consumistas... O prato está montado, o apetite é de cada um.
Abraço!
Eu tenho 3 filhos e 2 netos, nunca me casei e nem pretendo, acho que sou livre demais...
Leonel, você bem disse "O prato está montado, o apetite é de cada um". Realmente há muita coisa de pouca qualidade, e não só na TV, mas na internet também, ferramenta que é acessível à muitas pessoas. Sinto que há um ciclo, as pessoas não conseguem fazer boas escolhas quanto ao tipo de informação que querem receber, nem filtrar aquilo que recebem, e isso, nutre os produtores, que por sua vez produzem cada vez mais informações vazias ou de impacto negativo.
É realmente um assunto complicado, de solução difícil, se é que possível. É preciso educar melhor, na escola e principalmente em casa. Essas crianças que hoje crescem em meio a tantas informações descartáveis, serão a que vão educar outras crianças daqui a alguns anos.
Abraços.
Sandra, eu acho que importa mesmo é ser feliz. Quem disse que devemos nos casar? Pois não devemos. Devemos, sim, ter o que quisermos ter, não prejudicando ninguém e nem a nos mesmos eu acho que tudo é válido.
Parabéns pela família, minha amiga!
Abraços.
Eu acredito que ainda existe espaço para o amor, para a felicidade, para uma vida repleta de alegria. Seja no casamento, nas relações, ou em qualquer situação.
O problema é que as pessoas realmente não fazem as escolhas certas e quando se dão conta disso já é tarde demais. E quando o problema vem a tona e já perdemos muito, culpamos o mundo e a forma como a sociedade evoluiu.
A culpa pelos fracassos e erros são nossas e de mais ninguém. Claro que muitos fatores podem ser incluídos também, mas não podemos esquecer que somos totais responsáveis pelo o que acontecem em nossas vidas.
Estou do seu lado Angel e não vou deixar de acreditar que as relações verdadeiras podem existir e que a sociedade ainda tem muito de bom para mostrar, só está mais difícil para encontrarmos ou percebemos isso.
Beijos!
A vida é feita de escolhas, Thiago. Talvez pela forma distorcida como as pessoas tem sido criadas, elas são saibam escolher, ou escolham coisas que não duram, que não são realmente importantes.
Somos responsáveis pelo que plantamos, pelas nossas escolhas ou mesmo pela ausência delas.
E olha, fico feliz que você também acredite nas pessoas.
Abraços!
Belo texto! Realista até demais... é isso mesmo o que acontece mas a gente tá tão acostumado a usar a máscara que soa estranho pensar que é comum "usarmos" as pessoas pra satisfazer as nossas necessidades, quando o que eu entendo de amor é que ele é bem mais se dar do que receber...
Convivo com pessoas que acham "tudo" muito natural: trocar de parceiros como trocamos de roupa, infidelidade e essas coisas que se tornaram corriqueiras em matéria de relacionamentos hoje em dia. Confesso que nado contra a maré e frequentemente recuo pra não levar adiante uma discussão infrutífera. Deixa cada um pensar e fazer o que quiser (e arcar com as consequencias das suas escolhas, naturalmente), que eu vou aqui cultivando o hábito de respeitar elegantemente a opinião alheia ao mesmo tempo que conservo as minhas.
Beijo grande!
Viviane, e os que nadam contra a maré chegam a se sentir deslocados as vezes. Eu mesma me sinto assim, me chamam de antiquada, de iludade até, não acho ruim pelo que sou, mas acho ruim ver que pensamentos como o meu, e o seu, são cada vez mais escassos.
Mas a gente acaba encontrando pessoas parecidas com a gente, sejam amigos, seja para um relacionamento, ainda mais porque me bastam poucos por perto se estes são verdadeiros. E isso me conforta. Podemos não ser os certos? Podemos... Mas ao menos não nos sentiremos sozinhos, porque acho que este pensamento nunca vai morrer de todo.
Abraços, minha amiga!
Adorei suas idéias sobre casar. casaram com as minhas. :)
Que bom, Fabio! Fico feliz sempre que encontro mais um que ainda vê o casamento como uma união possível de ser feliz à ambos. Bem-vindo ao time, e também, ao blog!
Abraços.
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