26 de fevereiro de 2010

O que fica, o que é certo...

O elevador anunciou o décimo andar, as portas se abriram e por alguns segundos ele hesitou descer, não tinha certeza do que o movera até ali, não sabia se era o certo e se realmente era necessário fazê-lo àquela hora. O coração parecia que ia sair pela boca, os olhos lacrimejavam, ele sabia que aquele poderia ser o último ato, o final da estória, um final bem diferente do que ele havia imaginado. Reuniu suas forças e caminhou até a porta, aquele ambiente, tão familiar a ele, era agora tão estranho que o assustava. Parou em frente à entrada, não teve coragem de apertar a campainha, as lembranças vieram com toda a força e o impediam até mesmo de pensar.

Se lembrou de quando a conheceu naquela manhã de domingo em uma livraria, enquanto ambos escolhiam sua próxima leitura. Se encantou com o jeito dela, com o carinho com que percorria os dedos pelas estantes repletas, e pelos sorrisos que dava sempre que lia o amor em algum resumo. Os olhos se encontrando por acaso, o sorriso contido, a força que ele teve que fazer para vencer sua timidez e falar com ela inventando algum motivo. Naquele mesmo dia ele soube que a amava, e soube depois que com ela o mesmo havia acontecido. Foram meses juntos, os mais perfeitos de sua vida, até que o destino quis atravessar seus caminhos. Houve brigas, mas nenhuma tão séria quanto aquela, havia um culpado, mas talvez a culpa se desfizesse se o amor ainda fosse forte como foi no passado.

Sem querer foi trazido à realidade, e se nada mais poderia ser feito, então que pelo menos acabasse logo. Tocou a campainha, ouviu alguns passos, o virar da chave na fechadura, a porta se abrindo e ela surgindo a sua frente, tão ou ainda mais bela do que o dia em que ele a havia conhecido. Quis sorrir, mas teve medo, os olhos denunciavam que ela havia chorado. Mal conseguiram se olhar, ficaram em silêncio por alguns minutos até que ele, ciente do que lhe cabia, estendeu as mãos para entregar à ela uma caixa.

“São suas coisas... Ficaram na minha casa, eu...”

“Você não precisava... Não agora... poderia trazer outro dia, mandar alguém trazer...”

“Tudo bem, eu queria trazer. Está tudo bem, mesmo.”

Ela pegou a caixa e suas mãos tocaram as dele quando foi fazê-lo. Mais uma vez se olharam nos olhos e desta vez o que mais sentiram foi saudade. Em meio a tudo que tinha acontecido, a briga, as ofensas infundadas, só conseguiam sentir saudades um do outro, e de tudo o que significavam. Ele levou suas mãos ao rosto dela, se aproximou e em um ato impensado lhe deu um beijo.

A caixa foi abandonada sem que ela nem percebesse. O último beijo talvez, o último abraço, quem sabe. Mas naquele momento o amor falou mais alto que qualquer outro sentimento, e se fez a única certeza em meio a todas as dúvidas que o futuro os reservava.


Por onde andei - Nando Reis

6 comentários:

Sandra Ribeiro disse...

Ahhhh se as coisas recomeçassem assim...

Angel disse...

Bem melhores, não é minha amiga?

Abraços

Gian Fabra disse...

o amor sempre fala mais alto, o pior surdo é o q não quer escutar (ou seria cego?)

Enfim, dúvidas sempre existirão né?
bjs

Angel disse...

rs... Pois é, Gian, o pior surdo, o pior cego, o fato é que negar o amor é em vão, não é mesmo?

E as dúvidas? Bem, estas realmente existirão sempre, só não pode haver dúvida quanto ao sentimento, e não havendo, tudo pode ser superado ou esclarecido, acredito eu.

Abraços, meu caro!

Luciano A. Santos disse...

Sempre o amor! Quem a ele resiste?

Adorei o blog, abraços.

Angel disse...

Não há um que resista, Luciano, até aqueles que o diminuem, quando ficam diante dele se rendem.

Feliz pela sua visita! Volte mais vezes.

Abraços!

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