14 de fevereiro de 2010

Começando a me construir...

Há exatos dez anos minha vida começava a se definir. Por volta das nove horas da manhã, com o sol brilhando forte, eu desci daquele carro e deixei as duas pessoas que mais amo nessa vida lá dentro, a minha espera. Antes de caminhar lembro que olhei mais uma vez para minha mãe e disse “Eu acho que não consegui...”, e ela, segura do que sempre me dizia, não hesitou “Conseguiu sim, agora vá e me diz como é ver seu nome lá”. Vi lágrimas ameaçarem em seus olhos, até então eu só tinha visto minha mãe chorar duas vezes. Me virei e caminhei rapidamente, aqueles poucos metros pareciam quilômetros, e meu coração se apertava a cada passo dado por mim. Eu não conseguia pensar em nada, só em chegar rápido naquele lugar.

Lá estava eu, finalmente frente aquele mural, e ao contrário do que eu havia pensado, poucas pessoas também estavam lá. Algumas tristes, outras felizes, que gritavam aos quatro cantos aquelas palavras que apertavam em minha garganta e queriam tanto sair. Por um segundo hesitei, senti medo, mas ai me lembrei da pessoa mais corajosa que já conheci, e que estava lá fora, me esperando, segura de que eu lhe daria uma boa notícia. Me aproximei, procurei pela lista do curso de medicina veterinária, era a última, no canto esquerdo, bem embaixo. E não foi difícil me encontrar, e entre aqueles que se tornariam uma parte da minha vida, vi meu nome em sétimo lugar.

Comecei a chorar ali mesmo, num misto de felicidade e desabafo. Eu havia conseguido, eu havia vencido meu primeiro grande desafio, em uma universidade federal, logo na minha primeira batalha. Aos meus 16 anos, pela primeira vez na vida, enxerguei-me de fato. O que eu seria? O que aconteceria? A partir daquele momento eu tinha ao menos uma hipótese. Eu seria uma médica veterinária.

Enxuguei as lágrimas, ou pelo menos tentei. Corri ao encontro de minha mãe e minha irmã, que já estavam de fora do carro tamanha a ansiedade. Me vendo chorar minha irmã não aguentou, e emotiva como sempre foi, veio ao meu encontro e chorou junto comigo. Sem saberem ao certo o que dizer, minha mãe me olhou nos olhos, e foi ai que sorri. “Eu sabia! Eu disse pra você, eu disse!”, e junto com minha irmã, me abraçou. Choramos as três ali, abraçadas, juntas como tantas vezes estivemos e como tantas vezes ainda estaríamos a partir dali. Minha força, meu esteio, eu tinha ao meu lado quem eu tanto queria naquele que era, até então, o momento mais importante da minha vida.

Naquele instante todas as minhas mágoas desapareceram, minhas dúvidas se foram com a alegria que vi estampada no rosto da minha mãe. Ela, que foi guerreira, que criou sozinha três filhos trabalhando dia e noite como professora e costureira, via, um a um, alçar vôos como ela tanto sonhara. Não sei o que me deixou mais feliz, se foi passar no vestibular ou se foi ver a felicidade da minha mãe.

Dez anos se passaram, muita coisa aconteceu, muita coisa mudou. Mas se algo continua igual, ou talvez ainda maior, é o amor que sinto por essas duas. Minha irmã é como uma segunda mãe, e minha mãe é o meu maior orgulho, é exatamente o que eu quero ser “quando crescer”. É por vocês que eu não desisto, é por vocês, é pelo meu pai que está comigo agora, é pela família linda com a qual fui abençoada.

Este amor não acabará nunca. Disto, essa médica veterinária aqui, tem a mais absoluta certeza...

6 comentários:

Juliana Matos. disse...

Eu passei exatamente por isso que vc viveu, e por duas vezes uma no vestibular e outra na prova do Conselho q necessitava..por eles(a minha família) eu sempre fui forte e com eles eu sempre estaria forte, pq a força que eles nos dão, é essencial e de suma positividade e amor..São as pessoas mais importantes na nossa vida!
Um grande abraço, Angel

Angel disse...

E é assim que a gente vai se construindo, não é Juliana? Feliz aquele que tem uma família que apoia, que dá força, puxa a orelha, e que está sempre lá, torcendo!

Abraços, querida Juliana!

Luís Gonçalves Ferreira disse...

Que memorial recordação. Eu já disse que isso é coisa de génio, mas não se sinta pressiona a ser sempre a melhor em tudo, toda a vida. O jugo de se ser bom é pesado de mais. As expectativas são muitas, nossas e dos outros. Quando dizemos "Eu não faço isto para desiludir X e Y" é uma forma encapotada de dizer "Eu não faço isto para não me desiludir. Ser-se feliz é ser-se inteiro. Em tudo. Sei que você, sem conhecimento empírico, mas por sensação, nasceu para ter sucesso profissional.
Uma coisa eu garanto, Angel, as pessoas que dizem “Eu sabia! Eu disse pra você, eu disse!” na bonança estão lá para dizer “Eu sabia! Eu disse pra você, eu disse!” na tempestade. Se caímos e nos glorificamos é na certeza eterna que existem pessoas que esvoaçaram um sorriso quando estivermos perto delas, porque o sentir é mais importante do que o dever sentir.
Seja feliz, Angel. Sempre. Como nesse dia. Tenha sempre duas certezas: "Eu sou capaz" e que quem diz "“Eu sabia! Eu disse pra você, eu disse!”" estará lá sempre, nem que seja para lamber suas feridas.

Beijo enorme!

Angel disse...

Luís, quando muitas expectativas são depositadas corremos o risco de viver mais pelos outros que por nós mesmos, e isso, definitivamente, não é bom. Não sei ao certo como evitar isso, ainda mais quando somos adolescentes e não sabemos como impor certas idéias, e mesmo, não identificamos o quanto certas coisas podem nos abalar.

Quanto a segunda parte do que você disse, só posso concordar. Há pessoas que, independente do momento, estarão sempre lá, prontas a rir ou chorar conosco. Dádivas da vida, acho que são o nosso "bônus", um presente dado por Deus para nos ajudar.

Abraços, amigo Luís!

P.s.: Muito feliz por sua presença, novamente, constante!

:D

rui disse...

Parabens Angel......pelas conquistas.. pela forca
pela sua familia e pelos seus sentimentos.
Li o texto com uma atencao enorme....e foi ficando feliz com aquilo que estava a ler e antes do final sabia o resultado..Gostei da forma que falou de sua Mae..porque gosto tanto da minha e tento sempre lhe dar as maiores felicidades do Mundo..Assim como Você faz para a Sua.Queria lhe dizer que foi bom ler pela manha o seu texto..e agora lhe desejo belo dia cheio de felicidade..e que continue sempre com essa forca de que somos sempre capazes de conseguir sempre os nossos objectivos.......
Fique feliz......um beijo do tamanho do Mundo
Rui

Angel disse...

Rui, muito obrigada! E olha, estou só começando, porque eu quando quero, corro atrás mesmo, viu?! rs.

É isso, você falou exatamente o que sinto, tenho vontade de juntar toda felicidade do mundo e dar para minha mãe.

Mais uma vez, obrigada pelo carinho, Rui. Em seus comentários, em seu blog principalmente, fica nítido que você tem um coração maravilhoso!

Abraços!

P.s.: Há de de contar no blog se ela disse sim!! rs.

:D

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