17 de dezembro de 2009

Nem tudo é o que parece...

Estou doente. Prefiro pensar que "estou" e não que "sou", embora eu entenda que pode ser controlado, mas talvez, nunca curado. Nada físico, eu acho. Sobra então o psicológico.

Sei que preciso de ajuda, sei o que é, sei as consequências... Acreditei que seria algo controlável, que era uma fase, algo passageiro desencadeado por uma série de problemas. Juntaram-se as cobranças que sempre caíram sobre mim e sobre meu corpo à uma série de dramas emocionais. Imaginei que atendendo as cobranças e resolvendo os problemas eu voltaria ao "normal". Atendi mas não resolvi tudo que me incomodava, e nem de longe voltei ao "normal"... Mas penso que, se toda vez que surgir um grande problema eu reagir como tenho feito, acabarei com algo bem mais sério.

Não procurei ninguém. Há um mês falei apenas para uma pessoa. Na verdade, ele praticamente me forçou a falar ao me ver muito abatida. Falei sem querer, mas falei na esperança de que ele ignorasse meu "e não quero mais falar sobre isso, por favor" e de alguma maneira me puxasse do fundo desse poço. Ele não o fez, na verdade, parece não ter sentido pesar algum em atender o que pedi. Nada mais se falou sobre isso desde que contei, há um mês.

Quem me olha nem imagina. Pareço bem, aparentemente saudável e minhas olheiras podem, muito bem, ser explicadas pelo ritmo frenético dos últimos dias. Mas eu não estou bem. Não consigo me ajudar, não consigo procurar quem me ajude, falar sobre isso com alguém é complicado e, confesso que me dá medo, vergonha, não sei ao certo. Nem sei porque estou falando sobre isso aqui, um lugar tão meu e ao mesmo tempo totalmente público. Talvez porque aqui eu seja inacessível, posso ser julgada, mas, não terei sobre mim o peso de um olhar reprovador, pesaroso ou o que quer que seja. Por aqui posso evitar uma conversa, posso falar apenas o que quero, mesmo que não seja tudo o que eu preciso falar...

Enfim.

Tenho bulimia.

7 comentários:

leonel disse...

Bem vindo ao mundo dos que alguma coisa têm. Não reprovo teu "problema", ao contrário, admiro a coragem que tem ao relatar aqui. Imagino o quanto isso é difícil pra ti. Não tenho bulimia, mas já tive transtornos alimentares, em um determinado momento da minha vida. O que tenho, e, o que me é um "puta pé no saco" é um tal de transtorno bipolar, que literalmente "bombou" a minha vida, e, me fez ficar recluso, ainda mais recluso, e, afastado das pessoas, pq imagino que elas jamais me entenderão, ou, me aceitaram como realmente sou, tão cheio de arestas. Escrever para mim é quase como uma terapia, algumas vezes, tende quase a uma obscessão. Passei a me aceitar melhor nos últimos meses, depois que compreendi que eu não estava sozinho nesse "barco furado", e, que as minhas atitudes em nada tinham a ver com falta de força de vontade, ou, de coragem. Sozinho é foda, Angel, mas quando se divide fica um pouco menos!

leonel disse...

Não ignore o problema, nem tão pouco o diminute. Reconheça-se nele, e, nos tantos outros que tb sofrem com isso. Para colocar a gente no chão, onde nem cachorro lambe, tem um milhão de pessoas, mas para nos levantar, cuidar das feridas, e, nos ouvir, quando mais precisamos, nos apoiar, para seguir em frente (pq ninguém é perfeito nessa vida), existem poucos, muito poucos... talvez, ainda sobrem dedos em uma mão, se assim decidires contar.

Viviane Zion disse...

ai flor!

meu coração doeu agora... mas olha, o "seu" problema é bem mais comum do que você possa imaginar, e como disse o nosso amgio leonel, aí em cima, bem-vinda ao mundo dos que "têm" alguma coisa...

não tenho nenhuma receita milagrosa, infelizmente. mas posso te dizer que o seu caso não é exclusividade sua, a maioria das pessoas hoje apresenta algum distúrbio psíquico semalhante

procure ajuda profissional o quanto antes... e cerque-se de gente amiga, que possa te oferecer algum tipo de conforto, de segurança...

e conte com as minhas orações e torcida para que vc supere isso o quanto antes...

shalom.

Angel disse...

Leonel, Viviane... Obrigada pelas palavras, pelo apoio. Não sei bem como lidar com isso, mas vou aprender. Realmente, e infelizmente, estou em um mundo onde todos "tem alguma coisa", parece que isso são os frutos que estamos colhendo do que foi plantado nos últimos tempos. Padrões, cobranças, somos programados para ser perfeitos, e isso nunca será possível...

Obrigada, de verdade.

Abraços.

leonel disse...

Angel,

tu não és uma guria super poderosa! Não tente salvar o mundo, carregá-lo nas costas! Não existe perfeição neste mundo. Somos todos imperfeitos, e, por assim sermos somos livres para, com a vida, irmos nos lapidando. Nem sempre isso vem pelos caminhos certos. Às vezes, precisamos tomar direções erradas, para sabermos reconhecer as coordenadas certas. Isso é viver. Não viva cerceada por padrões, modismos, rótulos, nada. Isso tudo passa, e, o que fica é apenas uma horrível e nada palatável sensação de que poderia ter feito diferente, mas não fez. A única pessoa que te impede de ser como tu és, de te fazer acontecer na vida é tu. E mais ninguém.

Então, vai lá, desce e arrasa!

E quanto a perfeição, mais uma reflexão do Leonel aqui: Quando alcaçamos a perfeição, estamos prestes de perder a razão.

Abraços de um mortal, Angel!

Angel disse...

Leo, obrigada... Eu sei que sou a pessoa que mais me cobra, mas, acho que sou assim porque cresci não podendo decepcionar. Tinha sempre que ser a melhor, eu devia ser perfeita. É difícil esquecer o passado, por vezes ficam marcas inconscientes, que não conseguimos alcançar. Mas não se pode desistir, não é mesmo?

Abraços.

leonel disse...

Nunca devemos desistir, Angel! O passado nos cobra com suas correntes, mas ao passar do tempo, essas correntes se enferrujam, e, ficam mais fáceis de serem rompidas. A essa ferrugem, a humanidade chamou de maturidade! E eu sei que tens muita ferrugem vindo daí, de ti!

Abraços de um mortal!

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