8 de fevereiro de 2012

Do passado...

Não sei por onde começar. Esse provavelmente não será um bom texto, não ficará bem escrito, não será entendido de imediato, e, como eu tenho certeza de que ele será longo, muitos não terão vontade de ler. E eu não os julgo, isso pode até ser bom, não sei.

Talvez se eu parasse de chorar já seria um bom começo. Ou talvez se eu escrevesse sobre o porque de estar chorando. Ou simplesmente escrevesse. Desabafasse. Porque um dia alguém me disse que escrever alivia as dores. E alivia mesmo, ele estava certo. Chorar e escrever. Chorar escrevendo, como agora. Novidade nenhuma, afinal a maioria dos meus textos foram escritos assim. Lágrimas e vinho tinto, é isso que está por trás de cada um dos meus textos.

Enfim, é preciso começar.

Hoje, por algum motivo, eu me sinto como há 11 anos atrás. Mais precisamente 11 anos e sete dias. Sim, eu sou boa com datas, mas isso não é algo de que eu me orgulhe, não neste caso. Hoje, como há 11 anos e sete dias, eu fui tomada pelo desespero, pela repulsa, pela tristeza de estar no lugar errado, na hora errada, com a pior pessoa desse mundo inteiro. Do meu mundo inteiro, pelo menos. Poucas pessoas sabem do que aconteceu, e são poucas porque já é ruim o suficiente lembrar as vezes, então imagina como é falar. E junte a isso a vergonha, a raiva, a culpa, a tristeza, junte a isso todos os piores sentimentos de que você já teve notícia. Acrescente o fato de que, quase sempre, eu me arrependo. Eu e essa minha mania idiota de acreditar nas pessoas, de apostar, eu devo ser a maior perdedora de apostas de todo o mundo. Pensando sobre isso eu só posso concluir que, das duas uma: ou escolho mal a quem falar ou eu não consigo me fazer entender, não consigo dar a real dimensão do que é isso na vida de uma pessoa, na vida de uma mulher, na minha vida. Acredito que só quem passou por isso vá, de verdade, saber o que é. E eu não quero que você saiba o que é. E acredito também que entre homens e mulheres, um homem será o que menos irá entender. Pode ouvir, pode ser solidário no momento, mas depois, já era. O fato é que oito pessoas sabem disso. Oito pessoas em 11 anos e sete dias. Você, que pacientemente chegou até esse ponto do texto, pode já ter uma idéia do que se trata, mas, acredite, você só está perto. E destas oito pessoas, apenas duas não fizeram eu me arrepender de ter falado a respeito. Dois em oito, é a estatística apontando o erro.

Porque se eu pudesse pedir uma coisa para essas pessoas, e afinal eu só preciso de uma mesmo, eu pediria respeito. Respeito por mim, respeito pela confiança por mim depositada, respeito pela minha história. Preciso dizer que não tive? E dai me sobra a alternativa de sempre, que é a única que eu tenho, diga-se de passagem, que é seguir em frente. É tentar esconder o passado (porque esquecer eu não conseguirei jamais) e rezar para que eu o encontre poucas vezes durante a minha vida.

E sempre tem alguém pra me mandar seguir em frente. Sempre tem alguém pra me mandar esquecer. Sempre tem alguém pra dizer que é preciso ser forte. E sempre tem alguém pra dizer que o importante é o presente. Sempre tem.

Acredite, eu sei. E isso é só um desabafo, acredite também. Porque se eu não tivesse feito exatamente isso tudo ai que sempre tem alguém pra dizer, eu não estaria aqui escrevendo esse texto, pode apostar.

Agora a pouco eu prometi a mim que nunca mais contarei aquela história, não porque eu não queira, porque, sabe, por mais que me doa falar, assim como escrever, alivia. Não contarei porque não é qualquer pessoa que esta preparada para lidar com ela. Não é qualquer um que esta pronto, ou disposto, para tal, para enxergar o que eu sou de verdade, ou melhor, o que eu não sou. Não é qualquer um que vai me ouvir e me entender a partir dai. E o pior, não é qualquer um que vai me respeitar por tudo isso.

(Mas, quem sabe um dia? Porque além da mania idota de acreditar, tem a mania idiota de ter esperanças... Talvez alguém como eu, me entenda. Alguém como nesse post aqui).

O fato é que estamos acostumados com o nosso mundo, e no nosso mundo são as nossas vontades que devem prevalecer. Nosso mundo, nosso umbigo, o nosso que na verdade não passa de um eu. Esta é a minha teoria, sinta-se a vontade para discordar, mas, saiba que foram necessários 11 anos, sete dias e seis pessoas para que eu formulasse algo assim. Eu diria que é estatisticamente confiável.

Obrigada por ter chegado até aqui.

6 comentários:

Metamorfoses disse...

Noooossa! Nem sei o q pensar. Mas uma coisa q tenho certeza é que vc aparenta ser de carne e osso, e não de material gélido como muitas pessoas aparentam ser. Todos nós temos nossos fantasmas, ainda que escondidos no armário, ainda sim, estão lá. Mesmo q nos certifiquemos de manter a porta fechada para q não nos faça mal, ele ainda está lá... O jeito é encontrar o meio de lidar com isso e seguir em frente apesar de... Sempre! Eu só posso desejar-lhe q ao menos encontre companhia para enfrentar seus medos.

Bjão!


Ps: Eu sempre passo por aki, não tenho deixado comentários, mas continuo gostando da emoção que vc deixa fluir através da tela do computador...

Fábio Pedro Racoski disse...

Uma coisa que posso dizer é: ninguém pode julgá-la ou condená-la por nada, nada que seja. Ninguém sabe o que se passou e como, só você. É uma mania feia do ser humano colocar-se como onipresente, onipotente e juiz universal perante os outros.

não há razão
alheia
que possa julgar
tuas razões.

minha razão
é teu abraço
apertado
de mil emoções.

Impulsiva disse...

Mesmo sendo mulher, não consigo fazer idéia do que se trata, mas acredite, não é preciso.
Tudo que esta experiência te fez e te faz pensar, sentir, viver, escrever, isso sim é válido para entender que se trata de algo que não somente te feriu, mas fez de você o que és hoje.

Somos super passivos de erros, eu mesma tive muitos dos quais gostaria de esquecer, apagar da minha vida, mas eles não somem simplesmente.
Serei mais uma para te dizer não para esquecer, ser forte ou seguir em frente, mas para te pedir que não se culpe, pois a culpa é a pior parte.

Enfim, ler um texto deste é sentir-se parte de algo que, parece particular e muito seu, mas
é também uma viagem por nossas próprias desventuras.

Espero que agora estejas melhor, um abraço,
Kenia Araújo.

Anônimo disse...

Li letra por letra. E há muito que ficará para as entrelinhas do universo de 10 pessoas (contanto as duas envolvidas). Mas o que me cabe, ao que sinto, a quem já esteve dos dois lados da moeda, já sentiu e sofreu, e sentiu muito por fazer sofrer, sei que nada se esquece, nada passa. O que acontece é que já são 11 anos, e serão mais, e cada dia o tempo sem, ultrapassará o tempo com, e colocará tudo em perspectiva.

A tendência é que esse dia de 11 anos e sete dias atrás, seja cada vez menor, sem jamais desaparecer, mas menor o suficiente para que você possa viver em paz com ele.

Carregaremos tudo que vivemos, só temos que saber um jeito de fazer isso em paz.

Suzana Martins disse...

A confiança caminha nas entrelinhas da alma; e o tempo, ele se encarrega de ler cada palavra escrita em linhas paralelas...

Ahhh... Como eu entendo de letras escritas a vinho e lágrimas...

Beijos linda!!

Estou de volta, rs

Babi Paixão disse...

Confiar nas pessoas e se decepcionar. Quem não sabe o que é isso?

Não sou ninguém pra julgar os outros. E acho que quem te julgou/ julga muito menos.
Fica bem.
<3

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