A lembrança mais nítida do meu passado é uma mesa pequena, alta, sobre ela um vidro âmbar, de uns poucos centímetros, cheio de um líquido incolor que deixava imersa uma massa disforme. A mesa, o vidro, o que havia dentro dele, as horas que não passavam, a sensação de dormência, o choro, o aperto no peito. Sou resultado daquele dia, daquele que foi o meu divisor de águas, o corte certeiro que me partiu em duas, dois seres, o que eu era antes e o que me tornei depois. Talvez eu não enxergasse a vida como agora se não tivesse vivido aquele momento. Talvez eu fosse, hoje, uma pessoa melhor... Pior não, com certeza. Não seria uma pessoa pior porque eu teria um grande motivo para não o ser.
E como disse Khaled Hosseini, em O Caçador de Pipas, “não é verdade o que dizem a respeito do passado, essa história de que podemos enterrá-lo. Porque, de um jeito ou de outro, ele sempre consegue escapar.”. E por mais que eu queira esquecer, por mais que eu deseje voltar o tempo, jamais vai acontecer. Eu terei alguns dias tranquilos, solitários, dias em que estes pensamentos irão se esconder, mas, na maioria deles, eu terei de conviver com fantasmas que gritam aos meus ouvidos um conjunto de frases que sempre terminam com a mesma expressão. “Não posso fazer nada, então, se vira”. Não sei ao certo o que eu poderia ter feito para que o fim não fosse este, mas, isso não me impede de, todos os dias, pedir perdão.
E a vida é assim... Simples assim.
In the arms of the angel - Sarah Mclachlan
29 de outubro de 2010
Dos dias que antecedem
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1 comentários:
Me parece que havia um frasco com Kombuchá em cima de uma mesa e uma criança febril olhava aquilo, seu aspecto asqueroso, de dentro do seu delírio.
Que momentos terríveis a infancia nos deixa para lembrar e nos oprimir, com suas imagens fantasmagóricas nos perseguindo, passo a passo, pela senda da vida!
(Obrigado pela indicação para o selo do amigo.Não me sabia merecedor da lembrança.Uma grata surpresa.)
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